Pelos caminhos sinistros e alternativos por onde corre esse coelho de pelo branco...

segunda-feira, junho 09, 2003

Adopção:

Vi na TV um debate entre deputados versando a proposta do BE sobre adopção por casais homosexuais. Ouvi falar do modelo tradicional de família e da sua defesa. Ouvi dizer que faltam estudos que demonstrem a não existência de sequelas traumáticas para as crianças.

Sim, eu compreendo que a atitude conservadora é esperar para ver. Mesmo assim não consigo resistir a uma atitude de postulação. Sempre com a experiência passada a guiar-me, claro.
A questão aqui é de igualdade, pura e simples. Negar a uma criança o direito a ser acolhida por quem quer que seja que represente para ela carinho e protecção parece-me criminoso.

Por outro lado fico preocupado por se comparar uma união (fujo à palavra casamento) homosexual a outra heterosexual e se assumir claramente como melhor a segunda. Admito que também me pareceu lógico mas temos que ter cuidado com os preconceitos. Será que estes senhores ainda não perceberam que o bem estar das crianças será o mesmo desde que socialmente seja perfeitamente normal qualquer das situações? O que é necessário é que o pai ou mãe homosexual seja tão capaz de aceitar a diferença de orientação do filho como um pai ou mãe heterosexual, mais, é necessário que ambos preparem os filhos para (con)viver com ambas as opções. Acho que se fôssemos comparar este aspecto os pais heterosexuais levavam a vantagem em intolerância.

Parece-me evidente que um casal de homosexuais, homens ou mulheres, tem melhores capacidades, em princípio, para cuidar de uma criança do que uma instituição social. Mas para afastar a questão da falácia do casal, que vicia o debate e parece querer subrepticiamente justificar o conceito de casamento homosexual, levemos a questão ao ponto fundamental: se é verdade que biologicamente eram (como as coisas mudam) necessários dois indivíduos para a criação de um novo ser humano. É, por outro lado, uma convenção social que nos impõe este modelo de que esses mesmos indivíduos, e nesse número, são os mais indicados para o suporte social a esse novo ser.

Cortava-se o mal pela raíz se se eliminasse completamente a noção de adopção por casais, miraculosamente, isso parece ter sido já feito. Do que ouvi a Joana Amaral Dias qualquer indivíduo, independentemente da sua orientação sexual pode adoptar. Discutamos então meios de garantir que nos processos de adopção a orientação sexual não é factor determinante.
É que existem factores que me parecem muito mais importantes do que esse para garantir o futuro de uma criança. E muito mais difíceis de avaliar. Concentremo-nos nesses e as crianças que necessitarem de adopção ficarão sem dúvida melhor servidas.
Caso não tenha ficado claro, parece-me que o direito à adopção por parte de casais homosexuais é uma falsa questão. Enquanto a sociedade, em geral, não mudar vai ser uma opção que vai ser recusada. E deverá ser recusada, porque enquanto a maioria das pessoas mantiver, como eu inicialmente, a opinião que um casal homosexual não pode educar convenientemente uma criança, sem compreender que é a sua atitude de maioritária desconfiança a contribuir para essa impossibilidade, então não me admira que uma situação dessas seja difícil e traumática para a criança.

Paciência, os costumes custam a mudar por decreto. Mas com tempo lá iremos.